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Como O Atletismo Mudou A Minha Vida! - Vida De Maratonista

Como o Atletismo mudou a minha vida!

Já lá vão mais de três anos consecutivos ligado ao mundo do Atletismo. Uma porta pela qual decidi espreitar, logo depois entrar e, até agora, nunca mais sair. Passado todo este tempo, às vezes dou por mim a constatar como os meus hábitos mudaram. Como uma vontade enorme de me desafiar constantemente neste desporto provocou alterações significativas nos meus hábitos diários.

Por esta altura, o tempo acumulado já é demasiado para se dizer que foi apenas um momento de entusiasmo, “sol de pouca dura”, ou uma daquelas fases passageiras que todos temos e que muitas vezes resulta da procura de novas experiências ou de andarmos um pouco à deriva com a nossa vida.

A verdade é que a vontade de correr mais e mais rápido suscitou alterações profundas no meu dia-a-dia, a todos os níveis. De uma maneira geral, adquiri hábitos mais saudáveis, voltei à escola, tornei-me mais forte, e desconfio ter sido possuído pelo espírito de um descobrir português qualquer de outros tempos.

Sem mais rodeios, vamos então ver que mudanças foram estas. Aposto que também te identificas com algumas delas.

 

1. Horários

Desde os meus 13, 14 anos que deitar tarde começou a tornar-se um hábito. Maioritariamente, nas vésperas de dias em que me podia levantar tarde, mas não só! Jogar videojogos, ver filmes e séries, estudar (quando tinha que ser!), sair com os amigos, enfim, uma panóplia de coisas perfeitamente comuns aos jovens.

Assim se começou a fazer um shift para baixo no meu programa diário. O levantar às 8h e deitar à meia-noite rapidamente entrou em queda-livre até às 3h e 4h da manhã para depois dormir até à hora do almoço. Uma rotina que se entranhou e que, à falta de um estímulo mais forte, perdurou.

Atualmente, não é que tenha perdido o gosto ou deixado de executar algum destes hobbies. Todavia, o espaço que outrora tinham no meu programa é agora mais reduzido e claro, entram noutros horários. Tudo porque uma vontade mais forte se sobrepôs. Com o aparecimento do atletismo, de forma quase repentina, o shift inverteu o sentido e em pouco tempo estava eu no horário mais comum dos mortais, e até no turno madrugador.

Com o atletismo chegaram também os treinos bi-diários. Porque os compromissos profissionais e/ou pessoais muitas vezes o exigiam, o treino tinha que ser cedo. Rapidamente, tornei-me naquele que via o sol a nascer e os candeeiros da rua a apagar. O primeiro a ver os estragos na via pública resultantes da tempestade da noite anterior. O que pisava o alcatrão e o paralelo ainda antes do senhor da SUMA vir recolher as centenas de folhas de outono caídas das árvores nas últimas horas. Aquele que via padeiros e pasteleiros a entregarem o pão e os bolos ainda quentinhos nos cafés sem fabrico próprio.

Atualmente, oscilo entre o horário diurno e o madrugador, o que é o mais recomendado para a minha saúde (sono, relógio biológico) e para o rendimento desportivo. Sempre preferi a luz do dia às trevas da noite, pelo que voltar a aproveitar a claridade no seu todo e dispensar a escuridão não foi apenas uma mudança saudável, como até saborosa. Permanecer acordado até tarde é uma coisa que agora me faz confusão.

 

2. Alimentação

Aquela mentalidade inconsciente de um jovem que pratica desporto e que como não se vê a engordar come tudo o que lhe apetece. Longe vão os dias em que os meus pais fritavam batatas fritas ao jantar, algumas vezes por semana, porque eu queria e gostava, enquanto eles optavam pelas batatas cozidas. Então nos dias de treino no futebol é que eu chegava esfaimado e era até à última batata.

Claro que tinha algumas refeições saudáveis. Os meus pais garantiam sempre os mínimos da boa alimentação. Mas comia pouca fruta, desprezava a sopa, o peixe era uma raridade, e se houvesse hipótese de trocar o prato saudável pelo mais desejado, eu fazia por isso. Cereais e bolachas cheias de açúcar davam muito jeito, tanto no lanche à tarde como nas ceias quando ficava acordado até às altas horas. A par disto tinha ainda a minha amiga inseparável: a Coca-Cola!

Tudo mudou! O que inicialmente foi uma opção em prol de um maior rendimento, rapidamente deixou de ser um sacrifício. Sinto falta de comer mais vezes uma francesinha? De ir a um rodízio de pizza? De um prato que tenha batatas fritas no acompanhamento? Dos chocapics ao pequeno almoço e das bolachas à noite? Sem dúvida! Mato as saudades quando estou autorizado por mim mesmo, ou quando caio em tentação.

Por outro lado, hoje em dia as batatas cozidas sabem-me bem, ganhei um gosto especial a vários pratos de bacalhau, o atum tornou-se um grande amigo, os legumes já sabem que quando aparecem que têm 1/3 do prato reservado, a fruta é com fartura, e água e o chá (a minha mais recente aquisição) preenchem em média 90% a 95% dos líquidos ingeridos no total da semana.

Resumindo, ganhei o gosto a quase tudo o que preenche a minha alimentação nos dias que correm. A única dificuldade é dizer “não” a pratos que adoro e que não são tão recomendáveis, a fim de me manter controlado.

 

3. Novos conhecimentos

É um facto que nós não estudamos apenas quando andamos na escola. Todos os dias da nossa vida fazem parte de um processo contínuo de aprendizagem, em todos os sentidos. Porém, e já mesmo na parte final da nossa fase académica, o estudo é muito mais específico e orientado ao nosso curso ou à área profissional onde estamos inseridos. Ou seja, mantemos um elevado nível de ignorância em muitas outras áreas existentes.

Ora, o meu ingresso no atletismo abriu-me novos horizontes no interminável campo do conhecimento. Todos eles de forma voluntária. Sempre gostei e pratiquei desporto, mas a teoria passava-me ao lado. A corrida puxou-me para o colo livros técnicos e artigos web impressos referentes a métodos de treino e processos inerentes.

Se o comportamento anterior não será algo totalmente invulgar entre atletas, eu surpreendi-me a mim próprio quando dei por mim a ler livros e artigos sobre o funcionamento do corpo humano, da nossa mente, sobre a alimentação, e até de meditação. Principalmente os artigos que combinam a prática do exercício físico com o funcionamento da nossa máquina têm-me ensinado muito e cativado de tal maneira que até já cheguei a escrever neste espaço sobre estas matérias. O corpo humano é uma construção magnífica, e eu só há bem pouco tempo é que dei conta disso.

Eu interessado e a estudar “saúde”! Estou espantado comigo mesmo!

 

4. Evolução mental

Um processo que nunca abordei no desporto durante os vários anos em que joguei futebol. Pelo menos não de forma consciente.

Por seu lado, o atletismo aparece em sentido contrário. Quando vamos a dar o máximo, o desafio constante ao nosso psicológico é que muitas vezes determina se vamos ser, ou não, bem sucedidos na prova em curso. É com isto que nos ocupamos grande parte do tempo e que responde a uma parte da pergunta que amigos não corredores tantas vezes nos fazem: “em que pensas quando corres durante tanto tempo?”.

Como estava a dizer, creio que no atletismo esta luta seja mais consciente e o impacto na nossa performance mais significativo do que em muitos outros desportos. Pura e simplesmente, a nossa parte mental faz questão de mostrar que está presente. 

Desta forma, o frente-a-frente com esta parte de nós torna-se inevitável. Um confronto que nos faz procurar métodos para levar a melhor sobre a nossa mente, em conjunto com a nossa força interior do momento do desafio. Nem sempre corre bem! Mas também nem sempre corre mal, o que resulta em evolução da nossa parte neste processo.

Todavia, o melhor de tudo é que nós tomamos consciência desse mesmo crescimento. De que forma? Através da experiência acumulada nestes momentos. No presente, quando confrontados com novas situações difíceis neste campo, relembrar momentos do passado em que reagimos de forma positiva a desafios semelhantes pode ser uma ajuda preciosa para superar o novo obstáculo.

Resumindo este tópico, o atletismo trouxe-me um contacto diário e consciente com a parte da minha mente que tantas vezes é do contra. É como se do nada passa-se a ver uma figura que até à data estava oculta atrás da minha orelha a contrariar as minhas vontades e os meus quereres. Agora que a consigo ver, tenho outra força para lhe fazer frente, não só em provas de atletismo, como nos mais diversos obstáculos da minha vida no seu todo.

Por esta altura, tenho consciência que o meu estofo mental ainda tem muito para evoluir. Contudo, já está a milhas do que era há alguns anos atrás.

 

5. Contacto com o mundo

Desde pequeno que nunca fiz muitas viagens pelo nosso Portugal. Quer por razões de lazer, académicas, profissionais, ou até mesmo desportivas, pois até no futebol os jogos eram praticamente limitados à minha região. Não que desgostasse de sair de casa, mas também nunca foi uma coisa à qual me habituei, ou pela qual tenha desenvolvido uma grande paixão.

Nos dias de hoje, não sendo o meu hobbie predileto, viajar desperta-me outro nível de interesse. Acima de tudo, gosto de descobrir as manifestações da natureza de grande escala e de apreciar outros povos e respetivas culturas. A primeira será mais gosto, pois sempre preferi a natureza aos espaços citadinos, embora não dispense as construções heróicas que por aí existem. A segunda terá mais a ver com uma questão de conhecimento e de entender mentalidades tão diferentes de cidadãos que habitam o mesmo mundo que o meu.

Como é que isto se desenvolveu? Com a imensidão de provas de atletismo espalhadas por todo o país. Foi assim que comecei não só a variar a minha seleção competitiva como a abrir pequenos novos horizontes, no ramo dos Descobrimentos, que lentamente começaram a expandir-se.

Entre sítios perto e longe de onde resido, creio ter descoberto mais do meu país nestes últimos quatro anos do que nos anteriores 23. Mais a mais, foi preciso entrar no atletismo para andar pela primeira vez de avião e conhecer outros países e respetivas realidades. Assim se juntou o útil ao agradável, em favor de uma vida mais enriquecedora e realizada.

 

Conclusão

Resumindo, o meu espírito competitivo trouxe estes aspetos da minha vida para “mares nunca dantes navegados”. Considero todas estas mudanças positivas, quer no que diz respeito à minha saúde, quer no crescimento da minha pessoa enquanto homem e atleta.

Como referi na introdução, estou convicto que grande parte destas mudanças encontrem a sua origem num grande espírito competitivo. Um ou outro aspeto pode estar diretamente relacionado com a integração no mundo do atletismo, apenas e só. No entanto, a maioria destas mudanças são intrínsecas ao espírito competitivo e aos desafios constantes que este acarreta.

Apesar dos tópicos referido neste artigo, não convém esquecer “o outro lado”. Tudo o que aqui foi falado é muito bom, mas naturalmente que também exige sacrifícios noutros aspetos da nossa vida. Afinal de contas, a vida é como um equilíbrio de forças. Se a apertamos muito do lado do desporto, isso vai ter consequências nas outras partes. Se algumas podem ser insignificantes ao ponto de desaparecerem sem nós sentirmos a sua falta, outras têm um outro tipo de importância e significado. Mais do que isso, elas revelam-se fundamentais para a nossa estabilidade emocional, que por sua vez afeta também o nosso rendimento desportivo. Um assunto que talvez resulte em artigo aqui no Vida de Maratonista, numa outra altura.

Por agora, fica a nota essencial de que o atletismo na minha vida é muito mais do que me fazer à estrada e correr. Será um modo de vida, como muitos intitulam? Provável … Certo mesmo é que eu olho para os cinco pontos aqui abordados como pilares essenciais para continuar a sonhar que um dia posso pisar o caminho do sucesso neste desporto. Um sonho que tantas vezes confundo com realidade que se torna convicção de que lá vou chegar. Essa convicção resulta nestas mudanças 🙂

 

Ligado ao desporto desde pequeno, deixei definitivamente o futebol em 2016 para me dedicar afincadamente ao atletismo. Desde aí que muita coisa mudou na minha vida, a qual não imagino sem o desporto.

O Vida de Maratonista nasce então da minha paixão pelo atletismo, com contribuição especial da minha Licenciatura em Engenharia Informática, que me permitiu criar a solo este espaço de aventura e opinião, e torná-lo agradável a quem o visita.

Este artigo tem 4 comentários

  1. Excelente artigo, Renato. Gostei do texto e dos propósitos com os quais me identifico, se bem que numa óptica mais lúdica do que competitiva. Parabéns. Um único “senão” é que respeita o AO90 de que sou um contestatário “figadal”. Também não conhecia este excelente blogue, que já adicionei à minha lista e passarei a acompanhar . Abraço.

    1. Olá Fernando Andrade 🙂
      Fico muito feliz em saber que gostou do artigo e que vai continuar a seguir o Vida de Maratonista. Este é um espaço recente ao qual não tenho dedicado muito tempo a divulgar. O tempo por vezes é mesmo muito curto, os meus artigos normalmente levam bastante tempo a escrever, e então tenho canalizado o tempo que tenho quase exclusivamente para a redação. Acredito também que se os artigos forem bons que a palavra vai espalhando e ele vai crescendo por si mesmo 🙂
      Em relação ao AO90 tenho passado por várias fases. Já passei por uma em que tentei mesmo adaptar-me ao novo, depois fui ligeiramente voltando para trás, e acho que agora estou confuso ao ponto de muitas vezes usar um, outra vezes outro, e às vezes até mesmo os dois. Mas sempre gostei mais do de 90 para lhe ser sincero, e não conheço grandes adeptos do novo, pelo que até gostava de conhecer os seus motivos para ser a favor da mudança 🙂
      Abraço!

  2. Caro Renato, obrigado pela resposta ao meu comentário. “A Vida de Maratonista” tem mesmo pernas para andar, literalmente, de falarmos do maratonista ou em sentido figurado, se falarmos do excelente escriba. Quanto ao AO90 é mesmo esse que eu não gosto (e não há nenhum posterior a este). De entre as várias razões que me levam a não o seguir e a considerá-lo até, desrespeitoso para a Língua Portuguesa é dar primazia à fonética, atirando a etimologia das palavras para um segundo plano, o que dificulta a sua compreensão.Enfim, são 21 bases https://www.priberam.pt/docs/AcOrtog90.pdf . Com o intuito impossível (como se veio a provar) de se uniformizar o Português (Os grupos editores portugueses Porto Editora e Leya, que dominam o mercado livreiro, principalmente o escolar, pressionaram no sentido do AO90). Mas se se pretendia uniformizar, porque razão, no Brasil, mesmo depois de ratificarem o acordo continuam a alterar as edições do português de Portugal para o do Brasil? E porque razão terá passado a ser obrigatório aplicá-lo nas nossas escolas, antes de estar ratificado pelos outros Países ? Enfim, caro Renato, a conversa seria longa, mas sugiro que visita alguns grupos no facebook, como “Cidadãos contra o acordo ortográfico”, “Professores contra o acordo ortográfico”; “Tradutores Contra o Acordo Ortográfico”; “Em ACção contra o acordo ortográfico”,etc onde vão sendo abordadas as incoerências de um documento de que ninguém sentia falta. Mas nada como umas corridinhas e escrevermos sobre elas, para não nos lembrarmos de coisas tristes. Mas cá por mim, não que seja retrógrado e avesso à mudança, não cumprirei o “acordo” só porque sim, pois ele contraria muito do que serviu de base a uma aprendizagem do Português compreensível. Se vamos pelo critério da fonética, retirem-se os “h” do início das palavras. A ortografia não pode deixar de fazer sentido. Peço desculpa pelo relambório, mas estas coisas… fazem-me nervos. Abraço.

    1. Caro Fernando Andrade,
      agradeço os elogios e os incentivos, que são ainda mais motivadores para o trabalho que tenho vindo a desenvolver neste espaço 🙂

      Em relação ao AO90, preço desculpa pela minha ignorância, mas como só distingo os acordos entre “antigo” e “novo”, assumi que o de 90 seria o antigo (pela data!) e não o mais recente. Uma ASSUMPÇÃO que condicionou a minha resposta. Especialmente quando disse que só conhecia adeptos do acordo de 90 e na verdade estava-me a referir ao acordo “antigo”.
      Como também lhe disse, agora acabo por escrever uma mistura dos dois, até porque em termos de lei não sei bem em que ponto é que isto ficou. Estou longe de ser um especialista na matéria, mas de facto faz-me muita confusão algumas palavras neste acordo. E, acima de tudo, a questão da união da língua com a brasileira (porque no fundo é isso que o novo acordo parece …) é o que menos me agrada. Nada contra o Brasil ou os brasileiros, mas embora o entendimento das duas línguas seja semelhante, a língua portuguesa é uma coisa e a língua brasileira é outra …
      Não tem que pedir desculpa 🙂
      Abraço!

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