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Veteranos? Eles Continuam A Andar Que Se Fartam!

Veteranos? Eles continuam a andar que se fartam!

O registo de 1h02min00seg que Bernard Lagat (42 anos) alcançou, nos últimos dias, na Meia Maratona de Houston é apenas mais um feito memorável da classe veterana do atletismo.

Acontecimentos do género têm surgido, não só no panorama internacional, como também em Portugal. Basta olhar para a nova Campeã Nacional de Estrada, Inês Monteiro. Ainda que tenha sido um campeonato marcado por várias ausências de peso, a atleta levou a melhor sobre Sara Moreira. Esta última será certamente das mais destacadas na Europa, nos últimos anos.

Mas então, o que significam estes registos e estas conquistas? Que mesmo depois dos 35, o nosso corpo tem condições para manter a capacidade atlética de anos anteriores? Ou terá havido uma regressão no atletismo, estando os atletas do presente aquém dos das últimas décadas?

Este artigo não procura dar uma resposta a estas e outras perguntas dentro do tema. Em jeito de opinião, procura sim levantar algumas possibilidades que podem estar na origem destes acontecimentos.

 

Veteranos? Eles continuam a andar que se fartam!
Bernard Lagat nos 5000m Pista de Qualificação para os Jogos Olímpicos do Rio 2016
Foto: U.S. Army

 

Crise no Atletismo em Portugal

Comecemos por olhar para dentro. Portugal, pequeno em território, gigante na alma, já foi uma grande potências a nível mundial no meio-fundo e fundo. Porém, há muito que perdeu esse estatuto. Pode-se dizer que outros países evoluíram e superaram os nossos atletas. Mas talvez seja mais acertado dizer que nós andamos para trás.

As condições de treino hoje em dia são de longe melhores que as de outros tempos. Assim como as estradas, as pistas e as sapatilhas. Todavia, os nossos resultados agora são piores. Basta comparar as nossas marcas na pista nos últimos anos com as de anteriores. Ou os registos das meias-maratonas atuais – que raramente baixam da 01h05min – com as de outros tempos. Como é possível?

 

Não se promove a competitividade!

A maioria está apenas preocupada em ganhar dinheiro. Poucos parecem interessados em promover a competitividade que, por seu lado, potencia a evolução dos atletas. Há alguns anos atrás, segundo vários relatos, as provas não só ofereciam melhores prémios aos atletas, como eram mais baratas.

A própria divulgação do Atletismo – Vida de Maratonista, fundamental nas camadas jovens, é diminuta. Promover o prazer pelo atletismo sem saturar “os miúdos” é essencial.

 

Vida de Maratonista - Apresentação Blog

 

A televisão e os meios de comunicação em geral não parecem muito preocupados em transmitir eventos associados ao atletismo. Até as notícias de resultados são escassas. Felizmente, com o aparecimento da internet e das redes sociais, atualmente temos algum controlo sobre a situação. Ou seja, é possível fazermos um pouco o papel que outros media deviam exercer. O próprio “Vida de Maratonista” também existe para contribuir para isso.

Com todo este palavreado, até parece que estou a fugir do tema principal deste artigo. Não é o caso! Em Portugal, de um ponto de vista objetivo, creio que a parte competitiva e a divulgação do atletismo tem sido deixada para segundo plano em favor de outros interesses. Isso obviamente tem tido as suas consequências ao nível dos resultados. Daí um destaque anormal dos veteranos. Ora vejamos.

A tabela que se segue lista as 5 últimas provas de estrada em que participei (sem contar com a Maratona de Valência). Uma selecção onde fiz o cálculo da % de veteranos no TOP 10 masculino e feminino. Mais do que isso, aproveitei também para incluir a % de veteranos que ficaram à minha frente nestes eventos. A amostra de provas pode não ser muito grande, mas dá para perceber que existe quase um equilíbrio entre os atletas seniores e os que se apresentam para lá dos 35 anos.

 

Prova% Veteranos no TOP 10 Masculino% Veteranos no TOP 10 FemininoMinha posição na classificação geral% Veteranos em relação à minha classificação
35º G. P. Atletismo ACD "Os Ílhavos"30%30%37º (21º Sen)44%
4ª Corrida S. Silvestre Espinho30%70%8º (7º Sen)14%
31ª Edição 20 KMs Almeirim50%40%7º (3º Sen)66%
Corrida EDP Espinho 201750%40%18º (8º Sen)41%
29ª Meia Maratona "Cidade de Ovar" ***20%20%71º (46º Sen)36%
*** No caso da 29ª Meia Maratona "Cidade de Ovar", a % de veteranos poderá ser superior em todas as colunas. A prova só considera como "veterano" o indivíduo que tenha 40 ou mais anos.

 

Antes de avançar, entendam os veteranos nacionais que não estou a dizer que eles deviam andar menos. Os registos alcançados são justificados pelas capacidades de cada um. Simplesmente, na minha opinião, seria de esperar mais da elite sénior nacional e, dessa forma, um maior desequilibro entre as duas classes.

 

Veteranos em destaque no panorama internacional

A referência ao último grande feito de Bernard Lagat – na introdução deste artigo – é apenas mais um dos muitos que este já conseguiu no pós-35. Prata nos 5000m nos Campeonatos Mundiais de Atletismo de 2011 (Daegu) e Ouro nos 3000m nos Mundiais de Pista Coberta em 2012 (Istambul) são mais alguns.

Posso ainda ir aos Jogos Olímpicos de Pequim 2008  buscar a vitória, na maratona feminina, de Constantina Tomescu (38 anos na altura). Ou as vitórias do Imperador, Haile Gebrselassie, nas Maratonas de Berlim (uma delas com recorde do mundo na distância!) e do Dubai.

Portanto, em menos de uma centena de palavras foi possível enumerar alguns grandes feitos, nas mais variadas distâncias, de atletas de diferentes níveis, num passado recente. Tudo para lá dos 35 anos.

 

Veteranos? Eles continuam a andar que se fartam!
Haile Gebrselassie na Maratona Berlim 2011
Foto: Dirk Ingo Franke

 

Mas … a elite continua a dominar!

Apesar dos factos mencionados em cima, no panorama internacional a situação parece ser diferente. Os excelentes resultados dos veteranos (também conhecidos como masters) não estão propriamente a sobrepor-se aos registos da elite sénior. Acontece em algumas provas, mas o desporto também é mesmo assim. Quem se apresenta na linha de partida é sempre candidato.

Uma vez que nestas provas internacionais estão reunidos atletas de muita qualidade de TODO O MUNDO, os resultados alcançados serão, inevitavelmente, mais meritórios.

Veja-se o caso da própria Maratona. Uma prova tão especial, que já deixou de ser apenas para os “mais velhos”. Atualmente, atletas de 20 anos sobressaem-se de forma impressionante. Menos! Com apenas 19 anos, Ghirmay Ghebreslassie (Eritreia) venceu o Campeonato do Mundo da Maratona em 2015 (Pequim). Geoffrey Kamworor, de 25 anos, foi o vencedor da última edição da Maratona de Nova Iorque. Se estes campeões vão pagar estas presenças em tão tenra idade nas longas distâncias, isso já é outro debate.

 

Veteranos? Eles continuam a andar que se fartam!
Ghirmay Ghebreslassie na Maratona de Londres 2017
Foto: Katie Chan

 

Título de “Veterano”: adequado ou inapropriado?

Com situações tão diferentes nos dois panoramas, a que conclusões é possível chegar?

Primeiramente, que não existem atletas iguais. Cada caso é um caso. Ainda que para lá dos 35 a probabilidade de se destacar na elite seja mais reduzida, isso pode acontecer num número de casos considerável. Questões culturais, desportivas, fisiológicas, psicológicas, entre outras, todas elas têm influência no rendimento dos atletas.

Em Portugal, nos dias que correm, a probabilidade de destaque dos veteranos é maior, dada a crise que se faz sentir no meio-fundo e fundo. Não será por acaso que temos estado bem longe da disputa pela glória a nível internacional.

Por sua vez, os resultados internacionais vêm não só reforçar o espírito veterano a nível internacional, como podem servir de incentivo no panorama nacional. A mensagem que de lá advém é bem clara. A idade não é limitativa! Nem nos grandes palcos.

É neste reta final que “chamo ao palco” a vitória na Maratona de Hong Kong de Kenneth Mburu Mungara (44 anos). Mais 21 anos que o segundo classificado, Bonsa Dida Direba. Segundo consta, Mungara só começou a correr com regularidade aos 30 anos. Mais uma vez, a ideia de que a barreira pode ser mais mental do que física.

 

Veteranos? Eles continuam a andar que se fartam!
Carlos Lopes (Holanda – Janeiro de 1986)
Foto: Nationaal Archief

 

Veteranos, fonte de inspiração para todos!

Por último, toda esta reflexão me deixa bastante otimista para o futuro. Olho para este cenário como fator de motivação e inspiração, quer para os mais novos, quer para os mais velhos. Afinal de contas, não há nada como colher os frutos do trabalho a longo prazo. É o prémio mais justo para os mais dedicados!

Eu, que cheguei tarde ao atletismo, perspetivo assim chegar a veterano e, como os de agora, andar que me farto. Os portugueses têm ainda a vantagem de uma fonte de inspiração própria. Carlos Lopes na Maratona de Los Angeles em 1984.

 

Ligado ao desporto desde pequeno, deixei definitivamente o futebol em 2016 para me dedicar afincadamente ao atletismo. Desde aí que muita coisa mudou na minha vida, a qual não imagino sem o desporto.

O Vida de Maratonista nasce então da minha paixão pelo atletismo, com contribuição especial da minha Licenciatura em Engenharia Informática, que me permitiu criar a solo este espaço de aventura e opinião, e torná-lo agradável a quem o visita.

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