skip to Main Content
Sondre Moen E As Acusações Após O Novo Recorde Europeu Da Maratona

Sondre Moen e as acusações após o novo Recorde Europeu da Maratona

Sondre Nordstad Moen. Assim se chama o atleta mais falado nos últimos dias quando o tema é a maratona. Por bons e por maus motivos. A marca de 02h05min48seg, alcançada pelo norueguês na Maratona de Fukuoka do passado domingo, catapultou-o para o topo dos atletas europeus nesta distância. Um feito que não só virou todas as objetivas para ele, como uma onda gigante de dúvidas e suspeitas de doping no seu resultado.

Se pessoalmente a notícia não me agrada muito por este registo puxar para baixo a marca do “nosso” António Pinto, por outro lado não posso deixar de me sentir indignado com tanto ceticismo sobre este resultado.

 

Então os europeus também não podem correr abaixo de 2h06m?

Primeiramente, porque tenho a vaga ideia de que se fosse um atleta africano a fazê-lo que não se levantavam metade das suspeitas. O estereótipo de que os africanos é que são capazes de tudo neste tipo de provas e que os brancos não servem “nem para moços”, ou melhor, “nem para lebres” dos africanos parece-me cada vez mais enraizada no Ocidente. Há muito que temos vindo a aceitar esta ideia – com a qual eu não concordo – e esquece-mo-nos que os europeus também já foram grandes nesta prova mítica. Aliás, tanto aceitamos esta ideia na Europa que a naturalização de atletas africanos nos últimos anos é uma constante. É o caminho mais fácil e rápido para a obtenção de resultados. E quando assim é, é natural que cause estranheza um resultado destes.

 

Sondre Moen e as acusações após o novo Recorde Europeu da Maratona
Sondre Moen – Campeonatos Nacionais de Pista Noruegueses 2017 (5000 Metros)

 

O segundo motivo é algo que me diz mais a nível pessoal. De facto, quando os atletas de elite quebram os seus recordes pessoais, a diferença do novo registo para o antigo não costuma marcar uma diferença muito grande. Precisamente porque o senso comum diz que “elite” significa já um patamar muito alto. Logo, a evolução costuma ter resultado no “afinar” de todos os pormenores e na correção de pequenos erros. Deduz-se que estes atletas já fazem quase tudo bem, o que nem sempre se verifica.

 

Uma prova como a Maratona dá margem para grandes melhorias

Ora a distância aqui em causa é a da Maratona. Bem longa, é natural que esta prova dê boas possibilidades de recorde pessoal a um atleta disciplinado e com um plano de treinos ajustado às suas caraterísticas. Enquanto atleta semi-elite, não posso deixar de recordar a minha participação na Maratona de Amesterdão em 2016, altura em que consegui melhorar o meu registo em cerca de 20 minutos (03h0031seg -> 02h40min23seg). À escala da minha classe de atleta, poderá este meu feito estar próximo daquele que Sondre Moen conseguiu no Japão, no passado dia 3 de dezembro? Se sim, então quer isso dizer que desde aí também estou sob suspeita de doping? Seja como for, o fator mais irónico e principal motivador na minha escrita deste artigo só vem a seguir.

 

Renato Canova é o treinador de Sondre Moen

Nunca tinha ouvido falar de Sondre Moen até à data. No entanto, depois de passar os olhos pelo seu historial recente, constato ter assistido a algumas das provas em que ele participou nos últimos tempos. Já depois de ter lido algumas críticas, quando descobri que o seu treinador era o Renato Canova, uma parte de mim também se sentiu afetado pelas acusações.

Como disse, durante a apresentação do Vida de Maratonista, um dos maiores prazeres que tiro do atletismo é poder estudar os vários temas que afetam o nosso rendimento e ouvir os conselhos de outros atletas e amigos. Esta postura de autodidata e de “tentativa erro” já me cruzou com este senhor.  Ele que é um dos treinadores de maior sucesso na Maratona dos últimos anos. Ao meu estilo, tentei seguir os seus métodos. Os resultados foram bastante positivos.

Juntando as peças, com vários campeões formados e com a minha própria experiência, não posso deixar de acreditar neste resultado de Sondre Moen. Ele que, como disse Renato Canova, esteve quase um ano no Quénia a viver e a treinar como um atleta da região.

 

Inocente até prova em contrário

De maneira nenhuma, com este artigo quero passar a ideia de que estou a colocar as mãos no fogo pelo Sondre Moen. Não o faço por ninguém. Ainda para mais num desporto em que, pelo menos em Portugal, grande parte das provas não têm qualquer tipo de controlo de substâncias.

Porém, na maioria das situações sou adepto do lema: “inocente até prova em contrário”. Se nos casos de doping parece-me evidente que um vencedor dopado e descoberto só mais à frente retira o sentimento de verdadeira conquista ao segundo classificado, já que este não desfruta da vitória no momento criado para essa celebração, também desconfio que Sondre Moen, em caso de estar limpo, terá a consciência tranquila, mas que ainda assim toda esta situação não deixe de ser desagradável e triste para ele. Por mais que não se deixe afetar por ela.

 

Ligado ao desporto desde pequeno, deixei definitivamente o futebol em 2016 para me dedicar afincadamente ao atletismo. Desde aí que muita coisa mudou na minha vida, a qual não imagino sem o desporto.

O Vida de Maratonista nasce então da minha paixão pelo atletismo, com contribuição especial da minha Licenciatura em Engenharia Informática, que me permitiu criar a solo este espaço de aventura e opinião, e torná-lo agradável a quem o visita.

Este artigo tem 2 comentários

  1. Só tem que manter a consistência para que as dúvidas sejam dissipadas. Tem bases de atleta rápido em pista. Vamos ver se evoluí ainda mais na maratona.

    1. 2h05h já é uma graaande marca. Mas sim, também acredito que a continuar com este estilo de treino, em altitude e com essas bases que pode ainda ser melhor. É aguardar para ver 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Back To Top