No passado dia 21 de Abril, estive presente na 41ª edição da Maratona de Viena…
Maratona de Budapeste 2018 – Análise
A minha quarta maratona foi corrida na bonita cidade de Budapeste. Depois de uma rubrica totalmente dedica aos meus treinos e objetivos para esta prova, chegou a altura de fazer uma análise a todo o evento que envolveu a Maratona de Budapeste 2018. Vamos a isso!
Véspera da Prova
Como habitual, o sábado antes da prova ficou marcado pela visita à expo da maratona. Um deslocação até ao centro do evento que teve em vista ao levantamento do dorsal, convívio com amigos e outros atletas, entre outros afazeres agradáveis.
Ora, se as maratonas têm sempre algum tipo de programa para este dia, Budapeste tem um que parece interminável. Na verdade, desde já posso dizer que este será o ponto mais positivo da organização da prova. A SPAR Budapest Marathon é apenas o evento principal de um grande festival, o SPAR Budapest Marathon Festival, que se realiza na cidade, durante o fim de semana.
Sim, eu sei que muitas outras organizações têm outras provas em simultâneo. Porém, em Budapeste é mesmo por demais. Se não estou em erro, no sábado realizaram-se 8 (oito!) provas para miúdos e graúdos, com a mais extensa a ser a dos 10 kms. Naturalmente que isto mobiliza uma grande parte da população, pois tem atrações para todas as faixas etárias.
Enquanto noutras maratonas existe uma maior concentração de adultos, ali é difícil distinguir o género e/ou idade dominante. Para la dos grupos de atletas tradicionais, ver muitas crianças acompanhadas pelos seus pais, ambas as partes com dorsais e prontos para correr, dá um toque diferente ao evento. Um toque especial!
O Treino Obrigatório
Um treininho de 30 minutos pela manhã de sábado para mim é obrigação. Estranhamente, eu e os meus amigos não encontramos tantos atletas na rua quantos seria expectável para um evento que mobilizou perto de 33000 pessoas. O grupo ao qual pertenço ficou um pouco deslocado do epicentro da maratona, é certo. Mesmo assim, andamos a passear quer no sábado, quer no domingo, quer na segunda, e não se viam tantos atletas quanto isso, salvo mesmo no local da prova e num ou outro sítio.
A Exposição
Aqui também encontrei um conceito diferente do habitual. Se até agora todas as expos por onde passei eram em pavilhões, esta realizou-se ao ar livre. Um campus de uma universidade, com pequenas tendas montadas e distribuídas por aquele espaço enorme. De um lado, as tendas para o estritamente necessário. Isto é, alimentação, levantamento do dorsal, e uma ou outra de merchandising, ali por perto.
Mais abaixo, muito próximo do pórtico de partida e chegada das várias provas, dois grandes corredores com tendas mais pequenas onde se instalaram empresas e coletividades a promoverem os seus negócios. Todavia, poucas delas especificamente centradas no desporto ou na corrida. A maior parte era mais dedicada ao ramo da alimentação, ao entretenimento dos mais pequenos, entre outras temáticas não propriamente relevantes para o evento em si. Se algumas organizações, nas suas expos, têm bancas a mais para as grandes marcas, divulgação de outras maratonas e afins, esta tem um pouco a falta disso.
O facto de ser ao ar livre e de estar bom tempo permitiu às pessoas aproveitarem os espaços verdes daquele campus académico para relaxarem enquanto outros elementos dos seus grupos estavam em prova ou andavam a circular pelo festival. Até porque o programa incluía apresentações de pequenos grupos para entreter a malta. Lembro-me de um show de BTT ou algo do género a ser comentado de forma muito entusiástica por um dos envolvidos.
Por último, uma nota para a tradicional pasta party. Em Budapeste, apelidada de Barilla Pasta Party. A dita cuja decorreu entre as 11h da manhã e as 17h da tarde de sábado e não teve nada de especial (ou de “baril” …). Basicamente, podia-se escolher entre duas alternativas de massa, uma bebida, e uma pequena barra (bastante açucarada!) para sobremesa. Foi q.b.
Maratona de Budapeste 2018
Várias provas em simultâneo
Em Budapeste, a maratona propriamente dita realiza-se em simultâneo com mais quatro provas:
- Prova de cadeira de rodas e handcycle
- Corrida 30 Kms (individual)
- Maratona Estafeta (para 2 atletas)
- Maratona Estafeta (para 4 atletas)
Quando o percurso é o mesmo para todas as provas, como foi o caso em Budapeste, isso pode trazer coisas boas ou coisas más para a prova Rainha. Tudo depende da situação em que nos virmos envolvidos.
Se formos isolados e muito desgastados, a presença de mais atletas aumenta a probabilidade de encontrarmos alguém que puxe por nós e nos anime a certa altura do percurso.
Por outro lado, se seguirmos num grupo que esteja bem de saúde mas que conte com a presença de alguém da estafeta, existe um maior risco desse atleta ter frescura para acelerar na parte final, o que pode levar outros a tentar segui-lo e originar fragmentação no coletivo que ali se tinha formado.
Já a prova dos 30 Kms tinha a particularidade de começar precisamente aos 12.195 metros do percurso da maratona. A partida do primeiro grupo dos 30K estava marcada para ser entre as 9h40 e as 9h44. Ou seja, 40/44 minutos depois da partida da maratona. Eu devo ter passado por volta das 09h44 na zona de partida dos 30K e sinceramente não me lembro de apanhar ninguém à minha frente. Deduzo que a primeira partida deve ter sido só depois. Note-se que nesta prova de 30 quilómetros havia mais do que uma partida. Os grupos saíam mais ou menos de 5 em 5 minutos, segundo o regulamento. Provavelmente para os atletas que vinham da maratona não apanharem uma multidão de gente pela frente. Makes sense!
Resumindo, não tive grande interferência dos participantes das outras provas, pelo que não posso falar muito para além de dar a minha opinião sobre o assunto. Houve um elemento no meu grupo que acelerou um pouco antes de fazer a troca na zona da estafeta e um outro que passou por mim na parte final e que ia a voar quando eu já estava “a pé”. Mas para lá disto, nada de mais.
Ausência de VIPs
Quando foram apresentados os grupos de partida da Maratona de Budapeste, logo estranhei a sua distribuição. Para vosso conhecimento, o primeiro grupo de partida englobava todos os atletas que corressem igual ou mais rápido que 4:30/km.
Numa maratona com símbolo bronze, prata ou ouro da IAAF, tal significaria um número muito grande de participantes só nesta box. E mesmo para lá das que são rotuladas com estes símbolos, o mesmo poderá acontecer. Seguindo esta linha de raciocínio, estranhei a situação. Até porque não havia validação. Qualquer um podia escolher partir na primeira box durante o processo de inscrição.
Como tal, com receio de partir muito atrás, na véspera da prova dirige-me ao centro de informações na tentativa de saber mais sobre os dorsais VIP. Isto já depois de ter questionado a organização através da sua página de uma rede social. A resposta que tive foi que não existiam VIPs. Se quisesse partir à frente, então teria que chegar mais cedo à linha de partida para ser dos primeiros a entrar na box 1 e ter o meu espaço. Não tive escolha.
A verdade é que no dia da prova surgiram lá alguns VIPs. Muito poucos, mas apareceram. No entanto, também tenho a referir que foi super fácil partir na linha da frente. Quando entrei na box, aquela primeira linha de partida já reunia um número considerável de atletas. Todavia, muitos não estavam tão preocupados em agarrar-se à linha da frente como se fosse, por exemplo, em Portugal. Vejam lá que até tive tempo de ir para o outro lado das barreiras (o outro meio da estrada) a fim de fazer umas acelerações e aquecer melhor.
Lebres só mais cá para trás
Outro aspeto que não interferiu comigo mas que também foi um pouco diferente diz respeito aos pace runners, também conhecidos por muitos como “os balões”. O normal é existirem “balões” a partir do objetivo das 3 horas de prova. Em Budapeste, o primeiro pacer ia com o objetivo das 3h30.
Depois de considerados estes últimos tópicos, um 4º lugar na geral com registo de 02h35min52seg faz sentido. Afirmar antes da prova que este tempo daria para esta classificação seria de estranhar. Ainda para mais num dia em que decorreu em simultâneo o Campeonato Nacional de Maratona da Hungria. Por outras palavras, estavam lá os melhores maratonistas húngaros. Para lá deles, muito poucos da elite. A ausência de prémios, ou da revelação dos mesmos, também terá o seu peso neste assunto.
Esta última referência é também uma dica para quem equacionar ir a Budapeste no futuro. Se tiverem bons tempos podem ter que fazer muitos quilómetros a solo por não haver ninguém que vos acompanhe.
O percurso da Maratona de Budapeste
Antes de mais, de realçar que este ano o percurso foi diferente de edições anteriores. O sítio onde a prova costuma começar e acabar teve que mudar devido a obras, segundo consta, pelo que não foi o trajeto habitual. Independentemente disso, eu só posso falar do deste ano 2018.
O percurso é maioritariamente junto ao rio Danúbio, como seria expectável. Tem algumas zonas que sobem ou descem ligeiramente, mas nada de muito significativo. As grandes dificuldades são mesmo as pontes. Durante os 42.195 metros os atletas cruzam várias vezes o rio e algumas das pontes apresentam inclinações, seja durante a sua travessia ou nas rampas que as antecedem.
O primeiro terço é o mais bonito da prova. Esta parte do percurso é marcada pela passagem por alguns edifícios belos e que mesmo os mais concentrados não conseguem deixar de reparar, como é o caso do imponente Parlamento de Budapeste.
Ao quilómetro 15 existe uma passagem pela linha de meta, para mais à frente se fazer um retorno e, pouco depois, se reentrar numa reta que foi parcialmente percorrida logo após o tiro de partida. O problema é que nesta segunda passagem a reta tem 10 quilómetros de extensão. Um exagero! Ainda para mais quando se apanha vento de frente ou cruzado, como foi o caso. Para quem vai a solo ou em grupos reduzidos torna-se um troço algo duro e entediante.
Por volta do quilómetro 31, os atletas entram numa ilha com um parque e jardins até engraçados. No entanto, ainda tem que se ter o mínimo de frescura para se apreciar devidamente aquele local, ou então não se vai reparar em nada. Depois de percorrido o parque pelo seu interior, o trajeto volta para junto da margem do rio Danúbio até à meta, sem grandes construções para apreciar ou algo que distraia os atletas do seu esforço por poucos segundos que seja.
O Público
Muito pouco mesmo. Para lá dos apoiantes dos atletas, das zonas de troca dos atletas da estafeta, e de algumas pontes, os atletas têm pela frente um deserto. A reta que falei no tópico anterior é o exemplo mais crítico. Fazer 10 kms naquelas condições e sem ninguém a apoiar é penoso!
Eu sei que tenho as expectativas em alta em todos os aspetos devido à minha presença na Maratona de Valência, no ano passado. Porém, foi mesmo uma mudança do 8 para o 80 e isso sente-se. Mais do que em qualquer prova, o apoio na distância mítica é essencial para um resultado de sucesso.
Não é por acaso que vemos com frequência os vencedores das majors (e não só!) a referirem o público fantástico que os aplaudiu. Inevitavelmente, é um aspeto de grande valor e que marca os atletas. É impossível esquecer aquela onda de gente em Valência, ou em Amesterdão os mais pequenos a estenderem as mãos para nós em boa parte do percurso.
Os Abastecimentos
Abastecimentos não faltam ao longo do percurso. Todos eles repletos de coisas para além de água. Contudo, não posso deixar de referir dois tópicos.
O primeiro é o facto da água ser dada em copo. Alguns apresentam pouco mais de metade ainda antes de os apanharmos, o que a juntar ao desperdício do momento em que o agarramos acaba por ficar muito pouca água no copo. Quem vai em grandes ritmos (e não só!) não faz intenção de parar como é óbvio. Ora, a água que fica dá para beber e mal.
Não foi um dia de extremo calor, mas junto ao rio desidrata-se com mais facilidade. Percebo que seja uma medida contra o desperdício. Talvez dar garrafas em todos os abastecimentos, como acontece em Portugal, seja uma dádiva. Assim sendo, talvez o meio termo seja a solução ideal para todos. Isto é, postos alternados com copos e garrafas, ou algo do género.
A segunda situação é um pouco picuinhas e parece que estou quase a “prender a organização por ter cão e por não ter”. Passo a explicar. Os abastecimentos são todos muito próximos uns dos outros, o que faz os atletas habituarem-se a isso. Sensivelmente ao quilómetro 27.6 tem um posto, mas o seguinte é ao quilómetro 32.0. A distância não é assim tão grande, só que os outros são todos muito mais próximos uns dos outros. Quem não estudar o mapa, depois do 27 está a contar com outro pouco mais à frente, o que não acontece. O problema maior é que se trata de um troço que tem uma das subidas mais acentuadas do percurso. Peço desculpa pela “picuinhice”, mas achei que a devia referir.
Conclusão
A Maratona de Budapeste faz-me lembrar a nossa Maratona do Porto em vários pontos. Grande parte do percurso é junto ao rio, é composta por algumas zonas de pequena inclinação, é escassa em termos de público, e tem alguns troços repetidos.
De todas as maratonas que fiz no estrangeiro, esta é a única até agora que não me vai deixar saudades. Ainda que nela tenha a minha melhor classificação na distância. O SPAR Budapest Marathon Festival que acolhe a prova tem pontos muito positivos, mas isso não chega para se sobrepor à maratona propriamente dita, que para mim é sempre o mais importante.
Naturalmente que estar a comparar Budapeste com Valência e Amesterdão pode ser um bocado injusto para a primeira. Mas a comparação tem que ser feita para se perceberem as diferenças. Quem já participou em maratonas muito conceituadas vai chegar a Budapeste com expectativas que o evento não será capaz de cumprir.
Por outro lado, para quem anda a juntar maratonas à sua coleção, ou para aqueles que ainda estão a começar nisto das maratonas internacionais, a Maratona de Budapeste pode ser um bom começo, até porque a ela se junta uma cidade bastante original e que economicamente não é muito exigente para nós, portugueses.
Despeço-me com uma referência à medalha que é bastante bonita. E pesada!
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