Alguns leitores, mais antigos e regulares deste espaço, rapidamente perceberão que o texto que se…
12 KMs Manteigas – Penhas Douradas: Inesquecível!
Ontem, realizou-se mais uma edição dos 12 KMs Manteigas – Penhas Douradas. Hoje, faz precisamente um ano que fiz a minha estreia na prova. Ou seja, é a altura certa para recordar e partilhar aqui esta minha aventura pelo seio da Serra da Estrela . Um desafio que me marcou. Para sempre!
O Percurso
Na realidade, a prova não chega a ter os 12K. Tem cerca de 11 mil e 400 metros. Penosos. Nunca fiz trails, e esta foi a minha primeira prova de atletismo de montanha. Até ao momento, não repeti a experiência. Não está posto de parte. Mas longe de ser uma prioridade.
Sabia de antecipação o seu percurso. Um quilómetro plano pela Vila de Manteigas e depois sempre a subir. A questão é que há subir … e subir. Meta no Vale Formoso (Penhas Douradas).
O Desafio
Nenhuma das palavras que me disseram antes da prova tiveram capacidade para exprimir a real dureza do desafio. Cheguei a essa conclusão ainda antes de concluir metade do trajeto. Precisamente na mesma altura em que também caí na realidade. Não estava preparado para aquela aventura. Psicologicamente.
Durante o aquecimento, alguns atletas falavam em caminhar. Que em certas alturas poderia andar mais rápido a caminhar do que a correr. Por outro lado, que o não deixar de correr seria mais importante no aspeto mental.
O que sabia mais? Que os primeiros da geral não iriam caminhar. De certeza absoluta! Eu também não o queria fazer.
As Primeiras Dificuldades
Depois de deixar Manteigas para trás, as chamadas “paredes” começaram então a aparecer. Paredes separadas por aquelas curvas que tantas vezes vemos os ciclistas fazerem nas etapas de montanha. Se fazer estas curvas por fora significa dar uma volta maior, por dentro está garantida uma inclinação maior. Venha o diabo e escolha.
Com as primeiras dificuldades ultrapassadas, foi pouco depois do quilómetro 4 que a minha cabeça começou a entrar em pânico. Por outras palavras, a ajustar à realidade da prova todo o desenho mental que tinha elaborado.
Com 12 quilómetros estimados, as dúvidas e as incertezas começaram a tomar conta de mim. “Vai ser esta dureza até ao fim?“, “Mais 7km assim?”, “Que loucura!”. Obrigatoriamente, tinha que mudar o “chip” ou não ia ter um final feliz.
Inclinação e Vento – Uma Dupla Muito Forte!
Não nevou o ano passado. Mas quanto mais subia, mais o vento forte se fazia sentir. O frio não era grande preocupação. Nem os pingos gelados da chuva.
Entrei num trilho de terra por volta do quilómetro 7. Chegara até ali amparado pelos pensamentos positivos que conseguira ir buscar nos últimos quilómetros. Lembrei-me das duas maratonas que já tinha feito. De como sofrera no final da primeira. Lembrei-me que mais gente já tinha superado aquele desafio. Se vários atletas já tinham escrito ali o seu nome, eu também era capaz de o fazer. Sem caminhar claro.
Mesmo assim, tudo continuava muito complicado. A dificuldade da ascensão e o vento forte tinham unido forças. O meu muro psicológico estava a desmoronar-se rapidamente. Ia mesmo caminhar. Não conseguiria fazer mais 4 quilómetros até à meta com aquela inclinação medonha. Felizmente, algo mudou.
Ponto de Viragem
O fim do troço de terra (início do oitavo quilómetro) trouxe consigo o fim das inclinações terríveis. A partir dali, as subidas deixaram de ser “paredes” para voltarem a ser apenas isso, “subidas”. Voltei a respirar. Depois daquilo tudo, até parecia que estava a correr em plano.
A meta era perto do quilómetro 12? A mim pareceu-me mais ali. Foi a surpresa agradável da prova. A que salvou a minha prestação. A que impediu o meu muro psicológico de desabar e, consequentemente, de caminhar.
Os quilómetros finais foram feitos com alguma cautela. Não contava com aquela “ajuda” da serra. Assim como não sabia se me ia pregar mais alguma partida até à meta. Tinha que guardar algumas forças. Mas era tudo muito diferente das dificuldades a que fora sujeito nos quilómetros anteriores. Voltara a sentir-me minimamente confortável.
Quando percebi não ter mais paredes pela frente, gastei todas as forças que ainda tinha para chegar o mais rápido possível à linha de meta. Ao chá quente. Às bolachas.
O Regresso
Todos os anos, a organização disponibiliza autocarros na meta para trazer os atletas de volta até Manteigas. Deixo-vos uma sugestão diferente. Uma alternativa que coloquei em prática com os meus colegas de equipa. Descer a serra, exatamente pelo mesmo percurso da prova.
Como já disse, naquele dia não nevou. Houve Sol. Sol que raiava com mais força à medida que íamos descendo, acompanhados por aquela paisagem fantástica da Serra da Estrela. Depois de subir até lá acima, descer custa alguma coisa?
Uma Experiência Única!
Esta prova de 12 KMs que liga Manteigas ao Vale Formoso (Penhas Douradas) é impossível de ser esquecida.
A partilha da minha experiência pode ser assustadora a certa altura. Mas acreditem! Não pretendo afastar ninguém da prova com este relato. Pelo contrário. Recomendo esta experiência única! Este motivo extra para visitarem a Serra da Estrela.
Com este relato sincero, quero apenas garantir que quem lá vai pela primeira vez se apresente na partida com a devida preparação. Sobretudo psicológica. Esperem o pior da montanha para não chegarem a meio e vos dar vontade de voltar para trás.
Aos que aceitarem o desafio, lembrem-se do seguinte, sempre que necessário para prosseguirem na vossa jornada. A partir do quilómetro 8, tudo fica mais fácil.
Nota para um último dado competitivo, na tentativa de realçar as dificuldades que vão ter pela frente. Até ao momento, esta foi a única prova que fiz com ritmo acima de 5 min/km. 5:09/km para ser exato. Muito rápido para uns, muito lento para outros. Para mim, que não creio ter registos acima dos 4:20/km na estrada, acho que este dado diz muito das dificuldades encontradas.
Um desafio do tamanho da Serra!
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