Se é sabido que não se deve julgar um livro pela sua capa, o mesmo…
As palavras de Bárbara Timo na Tribuna Expresso
Na passada 6ª feira, quando li o texto da judoca Bárbara Timo na Tribuna Expresso, imediatamente senti uma identificação profunda com ele. Se em algumas das suas palavras encontro várias das minhas crenças desportivas, noutras encontro os caminhos que qualquer atleta deve trilhar, não para ser campeão do mundo, mas de si mesmo! E quem sabe uma coisa não leve à outra!
Por outras palavras, o texto parece-me uma bússola bastante moderna para, no futuro, ser alguém mais maduro e orgulhar-me das minhas atitudes e comportamentos. Por agora, procuro encontrar e manter-me pelos caminhos mencionados, evitando ao máximo as saídas fora de estrada.
O texto, intitulado “O lado bom da derrota”, pode ser lido na íntegra aqui, sendo minha vontade destacar as seguintes citações, a fim de progredir nesta minha reflexão.
Essas circunstâncias mostraram-me essencialmente que tudo na vida é transitório, há muitas perdas inevitáveis e, por isso, é necessário entrega, crença e vontade de lutar com o coração.
Transitório. Para mim a palavra chave desta citação que coloca o desporto como uma réplica perfeita da nossa vida em geral. Ou pelo menos daquilo que ela deve ser a fim de nos fazer crescer. Ao longo dos anos e da carreira, qualquer atleta passa por diferentes momentos de forma. Até os que dominam as suas modalidades durante anos e anos e mal conhecem o sabor da derrota, acreditando eu que simplesmente reagem às suas dificuldades com maior força e vigor, suprimindo a adversidade com maior rapidez. Por algum motivo, são os campeões dos campeões.
Continuando, mesmo que em alguns desportos o pico da forma física possa ser inexistente ou subtil, a mente não vive num estado constante, pelo que existem sempre repercussões (boas ou más) na performance, por mais que a capacidade atlética se mantenha inalterada. Nesta altura da minha vida, identifico neste processo agridoce um dos trilhos fundamentais para o crescimento de qualquer indivíduo. Porque, de facto, é nos momentos difíceis que desenvolvemos a nossa capacidade de resiliência e a nossa crença em como os bons momentos e resultados hão de voltar.
De notar que o desporto não é, na maioria dos casos, uma necessidade de sobrevivência. Ou, pelo menos, não chegamos a ele por obrigação, mas sim porque é nossa vontade e gosto em praticá-lo. O amor ao desporto é o catalisador que não temos muitas vezes nas nossas vidas profissionais quando temos de superar dificuldades, e isto faz uma grande diferença na maneira como vamos à luta e chegamos ao resultado final.
O meu valor como pessoa não está entre ganhar e perder. O resultado de uma competição é apenas a combinação de muitas variáveis e do meu desempenho naquele determinado momento. Se perdi não quer dizer que sou uma pessoa ruim ou a que minha adversária é melhor que eu.
Ao longo da vida, também tenho reforçado a minha convicção que é tendência natural do indivíduo “avaliar” as pessoas (especialmente aquelas com quem não tem proximidade) pelas suas conquistas. Por vezes, geram-se mesmo debates entre amigos, alguns bastante agitados e a roçar a agressão verbal, que discutem a postura de personalidades que mal conhecem. Embora agora não me lembre, eu próprio desconfio já ter caído nesta esparrela. Parece mesmo algo inato ao Ser Humano. Mas o que é facto é que existem campeões vencedores e campeões derrotistas. Porque qualquer campeão, no justo sentido da palavra, é medido pelas suas atitudes e não pelos seus resultados.
Mais acrescento. Certamente que por detrás de muitos atletas mediáticos estarão grandes atitudes, pois estas dão forma a um alicerce importante par as conquistas alcançadas. Mas além destes, passam em claro muitos outros campeões. Os mais dignos, cuja sociedade ganharia muito mais se o seu exemplo fosse público. Vou completar este meu raciocínio já de seguida, mas antes, uma última citação de Bárbara Timo.
Atualmente posso desfrutar das minhas emoções, procuro entender os meus sentimentos e, principalmente, o motivo de os estar a sentir. Não os reprimo.
Reprimir os sentimentos é algo que muitas vezes acontece em competição e que nos cai tão mal. Um exemplo claro, é quando no final de uma prova, de um jogo, ou de um duelo, tentamos de alguma forma desculpar-nos pelas nossas prestações. Utilizamos argumentos que não só não fazem sentido como ainda colocam em causa o mérito de quem esteve do outro lado da contenda. Comportamentos deste género não se encaixam no perfil de “campeão” e levam-nos a enganar os outros e, sobretudo, a nós próprios, prejudicando a nossa viagem de auto conhecimento que é tão preciosa e enriquecedora.
Permitam-me que faça a distinção entre “desculpar” e “justificar”, pois encaro a segunda como um processo imparcial que visa identificar o que originou determinado resultado competitivo alcançado.
Agora sim, completo a minha visão sobre os verdadeiros campeões, neste caso influenciada por aquilo que o mundo do atletismo me tem proporcionado. Os campeões mediáticos mais novos costumam ter sempre o dedo de algum campeão mais velho, seja ele consagrado ou não. Neste percurso atlético, tenho encontrado campeões que nunca se aproximaram de vencer qualquer prova. No entanto, eles inspiram os mais rápidos e os mais lentos; os seus comportamentos e atitudes marcam positivamente um pelotão; eles têm a capacidade de reacender a chama interior dos mais competitivos que julgavam já ter ultrapassado o pico da sua forma atlética;
Por fim, resta-me apenas dizer que me deu um gozo especial refletir sobre estes temas e expressá-los em palavras. Sou muito competitivo e trabalho para me superar e alcançar os melhores resultados possíveis. Porém, este foco por vezes encandeia-me, impedindo-me de ver que o desporto é muito mais do que competição; que sacrificar tudo o resto pode deixar-nos muito frágeis e até virar-se contra nós; que da própria solidariedade competitiva podem emergir valores muito importantes, momentos inesquecíveis, e até melhores resultados.
Imagem de Capa: Clker-Free-Vector-Images de Pixabay
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