No passado dia 21 de Abril, estive presente na 41ª edição da Maratona de Viena…
O Artista e o Guerreiro fazem o Maratonista!
Obrigado a todos aqueles que por via das redes sociais me deram a conhecer que hoje é o Dia do Maratonista. Até parece mal dizer isto num blog que tem a palavra “Maratonista” no nome. Lamento, mas não sou especialista em memorizar datas de aniversário (obrigado ao Facebook!), nem presto grande atenção à rubrica da moda que atribui dias a tudo.
Porém, ao vir ao meu encontro, fui incapaz de ficar indiferente ao tema. Esta homenagem a todos os maratonistas despertou-me uma onda gigante de nostalgia, acompanhada por uma tremenda reflexão sobre a apaixonante Maratona. Porque sem ela este dia não existia. Nem sem Fídipides. E não fosse Abebe Bikila ter nascido a 7 de agosto e este artigo apareceria numa outra altura.
Porto, Amesterdão, Valência e Budapeste. Os locais que me tornaram e afirmaram Maratonista e que agora desfrutam da minha publicidade gratuita. À medida que escrevo, sou assaltado pelo misto de sentimentos fortes que estas aventuras despoletaram. Vou guardá-los para mim, pois prefiro partilhar convosco a minha reflexão.
O Artista e o Guerreiro fazem o Maratonista!
Kiyoshi Nakamura tem uma célebre frase que me inspira desde que a descobri.
[blockquote align=”none” author=””]A Maratona é uma arte. O Maratonista um Artista.[/blockquote]
Uma frase que ganhou maior dimensão na minha cabeça quando li “Do the Work” de Steven Pressfield. Um livro onde o autor afirma (tradução livre):
[blockquote align=”none” author=””]O Guerreiro e o Artista vivem pelo mesmo código de necessidade, que dita que a luta deve ser travada todos os dias.[/blockquote]
De facto, não é o maratonista (no verdadeiro sentido da palavra), precisamente isto? Um Artista e um Guerreiro?
Artista no sentido de ser capaz de dominar e subjugar a distância mítica à sua vontade. Como os maratonistas sabem bem, a maratona é uma prova que mete muito respeito. O entusiasmo e a ousadia têm de ser muito bem medidos, sob risco da obra de arte ficar arruinada e sem hipótese de reparo.
Guerreiro no sentido do trabalho diário que tem início meses antes. Diria anos, se quisermos medir o nosso talento atual pelas raízes mais profundas das nossas capacidades. Um trabalho regular, acercado de múltiplos sacrifícios, que potencia o desenvolvimento da força física e psicológica necessária para enfrentarmos o grande desafio. Em suma, para podermos viver e desfrutar da maratona na sua plenitude.
O Artista só aparece no dia da festa?!
Já numa fase mais adiantada da minha reflexão, estava eu a interligar algumas destas linhas de pensamento quando cheguei à conclusão que o Artista e o Guerreiro não se cruzam nas suas funções.
O Guerreiro trabalha ao longo dos vários meses de preparação, a fim de garantir que efetuamos todo o trabalho necessário para cumprirmos os objetivos traçados. Por sua vez, no dia da maratona, o Artista apossa-se do atleta e, com recurso à sua mestria, orienta-o da melhor maneira possível ao longo dos 42195 metros.
Nesta perspetiva, no caso do Guerreiro falhar, o Artista nada pode fazer. Por outras palavras, nenhum dos dois é banhado pela tão desejada onda de felicidade, superação e conquista .
Já no caso de tudo correr como desejado, o Artista está lá para receber o reconhecimento exterior. No grande dia vive-se o momento, por mais que se tente destacar a importância da longa jornada. Ainda assim, o Guerreiro dá-de si onde mais importa, isto é, no nosso interior. Nem sempre nos apercebemos disso, mas ele é o principal responsável por vivermos com tanta intensidade o cruzamento daquela linha de meta.
Em alguns casos, o Guerreiro chega mesmo ao exterior, por via das lágrimas que escorrem junto do suor nas faces dos aventureiros. As lágrimas não são resultado da batalha do dia, mas de toda a guerra.
O Artista e o Guerreiro em pé de igualdade
Porém, pouco depois vi as coisas de maneira diferente. Uma igualdade com sentido.
Ainda agora estou convicto que o espírito guerreiro do dia da prova é apenas resultado da luta constante dos meses anteriores. Todavia, reconheço ter sido injusto com o Artista ao afirmar que este só aparecia no dia da maratona. Não posso esquecer que a motivação e condição física desenvolvida nos treinos depende muito do seu talento. Um aspeto que me escapou no início desta meditação.
Resumindo, trabalhar no duro todos os dias nem sempre é suficiente. O sucesso depende de outros alicerces. Tais como:
- avaliar a nossa condição a cada treino e projetar os seguintes em função disso;
- resistir à teimosia da rotina que tantas vezes nos impede de descansar ou treinar mais ou menos que o estipulado;
- ser sensato perante acontecimentos inesperados no treino e na nossa vida fora do atletismo;
O Artista é quem faz as escolhas perante estas bifurcações que encontramos ao longo da jornada. Decisões que influenciam o sucesso dos dias seguintes e, por consequência, a prestação na maratona.
Reencontro com a Maratona
Assim foi parte da minha reflexão neste Dia do Maratonista. Quem sabe para o ano, novamente incentivado por este misto de nostalgia e reflexão, me reencontre com a Maratona noutros trilhos do meu pensamento. Estradas essas que não doem nas pernas, muito menos na alma.
Nessa altura, conto ter mais uma no currículo, vivida com a mesma intensidade de sempre. Boas Maratonas 🙂
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