Há duas semanas atrás, na Corrida de S. Pedro (Póvoa de Varzim), utilizei as mesmas…
Relógio Garmin: Tempo em Movimento vs Tempo Decorrido
Há mais de ano que escrevi, neste espaço, um longo artigo sobre os relógios GPS. No referido texto, abordei, sobretudo, o seu modo de funcionamento respeitante ao cálculo da distância percorrida num treino, prova, etc. Uma explicação que permite entender o porquê de, por exemplo, no final de uma prova, a distância total percorrida ser diferente, entre os equipamentos GPS de cada atleta.
Porém, outro dia, caí numa outra esparrela relacionada com este tipo de equipamentos. Ou melhor, talvez tenha sido antes ingenuidade minha, desta feita, associada com o cronómetro do meu relógio Garmin. É que, estão a ver, ainda que a distância possa ser afectada pela qualidade do sinal GPS, e pelo percurso (mais ou menos “acidentado”) em que corremos, sempre assumi que o seu cronómetro funcionava como aquele disponível nos velhinhos e inesquecíveis relógios Casio.
Mas não! Para mal dos meus pecados, o meu Garmin Forerunner 230 (e, quase com toda a certeza, outros modelos) trazem dois cronómetros. Um que é afectado pelo GPS, e outro que não é. Ao primeiro, o Garmin chama “tempo em movimento” (moving time), e ao segundo apelida de “tempo decorrido” (elapsed time). Acontece que este último só aparece nos dados de uma “actividade”, vulgo, treino, quando o consultamos no site da Garmin. No relógio de pulso, quando colocamos o exercício “em pausa”, seja para o concluir a seguir, ou para lhe dar continuidade mais à frente, o tempo que aparece no visor é o “tempo em movimento”. E este, sendo influenciado pelo GPS, pode nos induzir em erro, se essa actividade, por qualquer motivo, tiver tipo problemas de sincronização com os satélites. Segue-se um (o meu!) exemplo concreto.
Garmin: Tempo em Movimento vs Tempo Decorrido
O registo que consta na imagem seguinte diz respeito à minha participação nos 3000m do Campeonato Distrital Absoluto (Distrito de Aveiro), em Vagos, no passado dia 10 de junho. Sendo na pista, a prova está, naturalmente bem medida, pelo que, indo de encontro ao meu primeiro artigo sobre dispositivos GPS, é possível, também aqui, ver a diferença no cálculo da distância final: 3.04K, em vez dos 3K exactos. No entanto, o que quero realmente salientar é o tal “tempo percorrido” e “tempo em movimento”. Ambos são muito idênticos e, como consequência, estão em sintonia com o tempo que me foi atribuído pela organização da prova: 9:34.67.
Até aqui tudo bem. Contudo, dois dias depois dos 3000m, marquei presença no Torneio “Cidade de Lourosa”, a fim de tirar uma marca aos 800m. Ao contrário do que se passou em Vagos, não havia cronómetro no final desta prova, e os resultados demoraram algum tempo a sair, pelo que só podia recorrer ao meu relógio Garmin para ter uma estimativa do meu registo. No final da disputa, o relógio marcava 2:09.00, pelo que, sendo essa uma fasquia que me parecia demasiado optimista para mim, e sabendo que o primeiro classificado tinha feito um tempo a rondar os 2:06, eu contava com uma ligeira descrepância. Mas lá fui esperando pela confirmação, julgando eu que devia ter uma marca na casa dos 2:12, por aí.
Ora, para minha surpresa, dois dias depois, foram publicados os resultados, e o meu registo era de 2:15.00. Parecia-me demasiado. Se o cálculo da distância podia falhar, eu estranhava ver uma diferença tão grande entre o cronómetro da prova e o do meu relógio. Posto isto, a primeira coisa que fiz foi conferir com outros participantes se os tempos que tinham batiam certos com os da organização da prova. Não havendo grandes diferenças nesses casos, o meu passo seguinte foi importar, para o site da Garmin, o registo da prova dos 800m que estava guardado no meu relógio. Só nessa altura, e pela primeira vez, olhei com grande atenção para a secção dos tempos. Ao ver 2:14.8 no “tempo decorrido”, não demorei muito a perceber que o erro era meu/do meu equipamento. Como revela a imagem seguinte, nesta prova em concreto, o “tempo em movimento” difere bastante do “tempo percorrido”.
Conclusão
Em suma, se utilizam dispositivos Garmin (não sei se o mesmo acontece com outras marcas), e alguma vez sentiram este género de desconfiança em relação ao tempo final de uma competição, consultem o “tempo decorrido” no site da Garmin, depois de importarem a actividade para lá. É esse que têm de ter em consideração, quando quiserem confrontar o cronómetro do vosso relógio com o da organização da prova. No relógio, quando clicam para “pausar” uma actividade, o tempo que lá vos aparece é o “tempo em movimento”, que, por sua vez, está sempre “agarrado” ao GPS. Mesmo depois de terminarem uma actividade, se forem ver os detalhes da mesma no vosso relógio, é o “tempo em movimento” que lá continua a aparecer. Por outras palavras, sempre que o GPS não estiver sincronizado, ou estiver “confuso”, como tantas vezes acontece em partidas de provas, nesse espaço de tempo, o equipamento está com o “tempo em movimento” parado.
Por fim, de salientar que tentei ver se era possível contornar isto, no próprio relógio, de alguma forma. Existe uma funcionalidade que é o “auto pause” e que, em certas situações, pode interferir com o “tempo em movimento”. Todavia, segundo consegui apurar, ele não acautela todas as situações, nomeadamente as de aglomerados e dificuldades de sinal, pelo que de pouco vale desactivá-lo para o efeito de solucionar este problema. De igual modo, não encontrei maneira de trazer o “tempo decorrido” para o ecrã do dispositivo que apresenta os dados finais de cada treino/actividade.
Sem mais nada a acrescentar, fica o relato, para evitarem dissabores e não acalentarem falsas esperanças no final de provas em que estejam a perspectivar o vosso tempo pelo relógio, enquanto esperam pelos resultados oficiais.
Boas corridas!
Nota: O autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico.
Imagem de Capa: “Garmin Smartwatch” by Janitors is licensed under CC BY 2.0
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