Alguns leitores, mais antigos e regulares deste espaço, rapidamente perceberão que o texto que se…
Dia de competir contra mim? Ou contra ti?
O passado domingo foi mais um dia de competição para mim.
Como é hábito meu, depois de arrefecer os ânimos, costumo fazer uma análise à minha prestação e avaliar todos os fatores internos e externos à minha pessoa que possam ter tido influência no rumo dos acontecimentos.
Pois bem, no meio das várias reflexões sobre o 2º G. P. de Atletismo de S. Pedro de Castelões, chamou-me à atenção uma tomada de decisão que tenho que fazer em todas as provas e que nem sempre vai pelo mesmo caminho. O objetivo é sempre o mesmo: a melhor prestação possível! Todavia, o fio condutor pode variar.
Dia de competir contra mim? Ou contra ti?
Por outras palavras, naquele dia vou competir contra quem? Contra a minha pessoa e o meu recorde pessoal? Ou com o objetivo de ficar à frente de alguém que não é hábito nos últimos tempos? Qual a escolha mais recomendada para ter progresso competitivo?
Amigos, é disto mesmo que se trata quando andamos em competição.
Por vezes, o meu rival chama-se Renato Sousa. Já noutras ocasiões tem nomes bem diferentes.
Uma lista que por esta altura já deve dar para convocar 23 para o mundial de futebol. Quem sabe, daqui a uns bons anos já tenha suficientes para constituir um pelotão para o Tour de France.
Que assim seja! Afinal de contas, aliada à competição vem sempre a parte da amizade. Porque no Atletismo é mesmo assim!
O mais engraçado no meio disto tudo, e que por sua vez deu origem a este artigo, é que trata-se de uma escolha feita de maneira natural. Seja antes ou durante a prova.
Com base nas várias situações, passo então a partilhar convosco as escolhas que costumo fazer.
Competir contra mim próprio
Quando, na minha perspetiva, as condições da prova e o meu estado físico e mental reúnem condições para atingir um novo recorde pessoal na distância.
Especialmente nestes dias, vou mais atento ao relógio e aos ritmos alcançados, quilómetro após quilómetro, para perceber se estou dentro ou fora da linha que me separa de uma nova vitória pessoal.
O objetivo é no final poder dizer a mim mesmo, como eu tanto gosto e me dá satisfação:
Parabéns! Mais uma vez mostraste quem manda! Competitivamente, hoje és melhor atleta do que eras ontem.
Competir contra os outros
Este ponto pode ser dividido em duas demandas. A procura pela melhor classificação de sempre, e a procura pela forma física e psicológica que algures perdemos pelo caminho. Ora vejamos.
À procura da melhor classificação de sempre
Quando marco presença em provas que cruzo com fases duras do meu plano de treinos. Quando as distâncias não são as tradicionais (10K, meia-maratona e maratona). Ou então, com base nas condições do dia e os atletas presentes, muitas vezes acabo por definir como objetivo acompanhar certos atletas até ao fim ou tentar ficar à frente deles.
Todos eles objetivos que, quando alcançados, são garantia de uma maior motivação no trabalho que me espera nos dias seguintes. Aqui sim, será mais rivalidade exterior do que competição própria. Porém, o destino é sempre o mesmo.
Afinal de contas, conseguir ficar à frente de atletas dos quais costumo ficar atrás será um sinal de que estou a evoluir. A par da vontade própria e do desafio pessoal, se isto não me dá ânimo para continuar a minha jornada, o que vai dar?
À procura da melhor forma física ou psicológica
Muitos atletas não gostam de ir às provas quando não se veem na sua melhor forma. Seja por que animicamente estão em baixo, porque os tempos só têm piorado, ou até porque não têm conseguido treinar o quanto desejavam.
Na minha perspetiva, as provas são precisamente o melhor meio para revertermos uma má fase. No caso do problema ser psicológico, arrisco dizer que o plano de treinos deve ser repensado para incluir mais algumas provas do que à partida estaria estipulado para essa altura.
Creio que grande parte de vocês concordará comigo. Se estamos em baixo psicologicamente, é dez vezes mais complicado fazer séries e treinos duros à semana.
Ora, se nas provas o nosso orgulho vem ao de cima e não queremos ficar mal perante ninguém, tal significa que estamos dispostos a dar tudo. Indiretamente, isto quer dizer que ali vamos fazer um treino duro. O melhor “treino” da semana.
Quem sabe até não nos surpreendamos a nós próprios e dali saia uma prestação melhor do que a expectável. E assim se começa a inverter o ciclo negativo 🙂
Competir com objetivos muito particulares
Existem ainda as ditas circunstâncias especiais. As exceções à regra. No meu caso, até à data, só conto dois.
Um deles foi a primeira maratona que fiz (Porto 2015), onde tinha dois objetivos. Um deles passava por superar a mítica distância, tendo em conta que se tratava de uma estreia.
A outra situação em que o objetivo foi diferente diz respeito à aventura pela Serra da Estrela que já aqui relatei. Uma prova em que a minha corda psicológica esteve a milímetros de rebentar!
Condicionado logo à partida pela minha decisão
Como disse na introdução, a minha tomada de decisão do dia visa sempre percorrer o que considero ser o melhor caminho, quer para o desafio em causa, quer para ser um atleta mais motivado nos dias seguintes.
Se tudo depende das várias cartas que estão em cima da mesa no dia da prova, certo é que o meu rival não é sempre o mesmo. Por vezes é a minha sombra aliada ao cronómetro. Noutras ocasiões são os atletas que eu admiro e ambiciono superar, pois ficam sempre à minha frente.
Ora, qualquer que seja a escolha que faça, ela vai sempre influenciar a minha prestação. Eu sou o meu treinador. Logo, a mensagem que vou passar para o meu “atleta” (o meu físico aliado ao meu subconsciente) vai condicionar os seus comportamentos.
Resultado final? Um álbum de fotos para a vida!
Por último, é preciso reconhecer que uma prestação só é excelente quando os dois grandes rivais se cruzam. Nós próprios e os nossos amigos atletas.
Só uma grande condição física e mental da nossa parte, aliada à adrenalina que libertamos quando participamos em provas com atletas que nos faltam nos treinos, é que nos permite chegar a um grande desempenho.
Se quiserem passar do excelente ao fora de série, então juntem o público a estes dois meninos para uma mistura explosiva. Uma combinação capaz de rebentar com quaisquer limites que se possam atrever a traçar.
Disse “fora de série” no parágrafo anterior? Disse! Então isso significa que é um filme que vai ficar gravado na nossa memória para toda a vida.
Todavia, não se esqueçam também do álbum de fotos! Aquele que nos apanhou junto de uma grande diversidade de atletas, consoante as oscilações da forma física. A nossa e a dos outros. Enquanto uns andam para a frente, outros andam para trás. Até que tudo muda.
A objetiva está lá para gravar os diferentes momentos. Vão ver as fotografias que têm e regozijem-se com belos momentos do passado. Sou apologista de não ficar agarrado a este moço. Todavia, volta e meia abro alas para o tão conhecido “recordar é viver”.
Este artigo tem 0 comentários