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Corrida De S. João 2023 (Vila Nova De Gaia)

Corrida de S. João 2023: uma ideia para desbloquear o trânsito

18 de junho 2023. Vila Nova de Gaia. Quilómetro 11 da Corrida de S. João, mais metro, menos metro. Acabei de contornar uma rotunda, o mais por dentro da estrada possível, a fim de inverter o sentido e repetir, desta vez no sentido inverso, os últimos 4 quilómetros percorridos. Como estou dentro do top 15 da contenda, a grande maioria dos participantes ainda vem no sentido oposto àquele em que me encontro agora. Mas ali isso ainda não é visível (apenas sabido), pois há pouca gente nas duas vias. Portanto, só mais à frente, ao passar o quilómetro 12, e depois o 13, é que o cenário da corrida me faz lembrar as informações de trânsito que passam na rádio e nos noticiários televisivos matinais. Nessas alturas, usufruindo da vista de cima das câmaras instaladas nos locais que a TV difunde, não é nada anormal, particularmente nas autoestradas, ver um lado totalmente congestionado, com os carros a circularem em marcha (muito) lenta, enquanto no oposto se circula (quase) livremente.

No entanto, apesar desta grande semelhança (pelo menos aos meus olhos) entre o trânsito nacional e a Corrida de S. João, há várias diferenças à mercê do espectador mais atento. Vejamos: na corrida, ao galgar metros, vejo claramente o trânsito a aumentar do outro lado, mas não há nenhum acidente. Apesar da grande concentração de atletas por metro quadrado de asfalto e paralelo, a circulação continua a fluir e ninguém tem de esperar por ninguém, se assim o entender. Também no que diz respeito ao cenário da prova, há muitos “carros” estacionados na berma, mas apenas para ver o trânsito a avançar. Não estão à espera que lhes dêem a vez para entrar na avenida. E, quando muito, buzinam com as mãos, mas não é para insultar ou fazer pressão. Em suma, querem apenas ver a caravana passar.

Chegado a este ponto, parece evidente que a grande diferença entre este cenário de trânsito humano e aquele a que assistimos diariamente nas estradas de Portugal é que no primeiro vai tudo a pé e, arrisco dizer, mais de metade dos participantes vai desligado dos seus equipamentos tecnológicos (salvo para registo GPS ou algo do género), cujo uso é mais tentador numa fila de trânsito stressante e entediante. Na corrida de S. João, salvo membros da organização, não há carros ou motas de transporte, embora possam existir pessoas que vão a fazer serviços de Uber e Táxi, levando muitos ou poucos elementos atrás de si. Contudo, um outro contraste digno de ressalva é a ausência de insultos e de buzinadelas, que ouvimos com fartura nas nossas estradas pelos motivos mais insignificantes. É verdade que, no caso da Corrida de S. João, não haverá muitos atletas com buzinas nas mãos para fazer barulho, nem com oxigénio de sobra para utilizar numa atitude ofensiva (e é também aqui que se percebe a inutilidade ou desnecessidade de tal comportamento). Porém, dada a diversidade e a quantidade assinalável de sorrisos e palavras de incentivo, não creio que seja por essa ausência de material ou falta de capacidade, mas sim porque a vontade de insultar e ofender não está lá.

Resumindo, e acrescentando aqui a evolução recente das sapatilhas com placa de carbono, não vejo porque não desenvolver (para fora da vertente competitiva), outro tipo de placa, rodas, molas, ou outro acessório inovador qualquer que permita a deslocação em maiores velocidades sem muito desgaste. Tenho a certeza que, nestes tempos em que se usa e abusa da tecnologia, extravasando o ridículo em alguns casos, alguma coisa se há de arranjar. Já aqui vimos que o denominador comum são as pessoas, e os factores de diferenciação são os veículos de transporte que nos encapsulam e os telemóveis que nos absorvem. Portanto, é possível que os veículos e os acessórios sejam os principais culpados das distracções que originam acidentes nas estradas e os grandes causadores de stress. Se a diferença de comportamento é tão significativa, porque não apostar nisto? Seria possível aglomerar mais pessoas por metro quadrado de estrada, haveriam menos acidentes (e despesas de reparação), menos portagens e impostos de selo para pagar (embora talvez outra coisa qualquer), menos emissões de gases para a atmosfera (possivelmente), e um aumento de socialização (saudável) durante as deslocações. De facto, até creio que é a pensar nisto que já se vê tantos pais e mães a transportar os seus filhos em carrinhos durante provas e treinos. Só lhes falta mesmo umas sapatilhas deste tipo para os levarem às creches por esta via. E quanto a horários e a possíveis pressões de ter os patrões à espera no trabalho e na expectativa que cheguem a horas, também não vejo problema com isso. Quando, num evento destes, somos capazes de estar na linha de partida a tempo e horas, mesmo tendo de deixar o carro muito longe da linha de meta, somos igualmente capazes de o fazer para o nosso trabalho e outros afazeres do dia-a-dia.

Em passo de brincadeira, fica a sugestão para as marcas de sapatilhas pensarem no assunto. Boas corridas!

 

Nota: O autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico.

 

Ligado ao desporto desde pequeno, deixei definitivamente o futebol em 2016 para me dedicar afincadamente ao atletismo. Desde aí que muita coisa mudou na minha vida, a qual não imagino sem o desporto.

O Vida de Maratonista nasce então da minha paixão pelo atletismo, com contribuição especial da minha Licenciatura em Engenharia Informática, que me permitiu criar a solo este espaço de aventura e opinião, e torná-lo agradável a quem o visita.

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