Domingo, 10 de fevereiro de 2019. Pelo terceiro ano consecutivo, alistei-me no plantel decidido a…
Uma reunião familiar na Quinta do Ega
Treze meses. Este foi o tempo de espera para o meu regresso à competição, após o aparecimento da COVID-19 (ainda dizem que este número dá azar?). O ponto final – veremos se se transforma num “ponto final, páragrafo” – aconteceu ontem, com a realização do Campeonato Distrital de Corta-Mato Longo, na Quinta do Ega, em Vagos. E que bom que foi!
A prova, apesar de algumas circunstâncias muito diferentes de outrora, e longe de um cenário de guerra, trouxe com ela os aromas, as paisagens, e as sensações que há muito haviam sido arrumadas num canto. E quem é competitivo, compreende bem o significado desta frase. Mas isto não é tudo. Aliás, pelo no meu entender, não é o mais importante. O ponto alto deste regresso foi o reencontro de muitos dos membros que compõem esta família, chamada “atletismo”.
Uma família que não se estabelece por laços de sangue e que sabe tão bem receber. Eu que o diga, pois não faço parte dela assim há tanto tempo e, no entanto, já contabilizo um grande número de amizades. Pessoas que me acolheram maravilhosamente, deste o primeiro momento. Até foi por esta via que fui andar de avião e conhecer o mundo para lá de Portugal, pela primeira vez. A pandemia trouxe coisas muito más. Todavia, se há uma que já deixou a sua marca pela positiva, é que permitiu reflectir e dar o verdadeiro valor a todo este grupo.
Claro que se me perguntarem se senti falta da competição, a resposta é óbvia: imensa! Contudo, a possibilidade de treinar diariamente e de poder aplicar intensidade ao exercício, de alguma forma foi mitigando essa sede. Por outro lado, não havia substituição para o atleta que perseguimos nas provas e nos faz andar mais, nem para aquele que nos persegue e não nos permite relaxar. Muito menos nestes últimos meses de maior aperto, quando a corrida voltou a ser diariamente em solitário. Nestes dois últimos apontamentos, sobressai a parte humana que compõe esta paisagem magnífica: o convívio social! Antes, durante, e depois da prova.
De facto, já alguns dias antes deste corta-mato longo, comecei a interiorizar a ideia que, o mais importante para mim seria desfrutar do regresso ao ambiente inigualável que surge nestas ocasiões e que vai muito para lá da prestação individual. Acima de tudo, depois de tanto tempo de seca, interessava-me captar a alegria e felicidade que eu ainda tinha memória de receber nestes dias. Um estado de espírito muito alimentado pela vertente humana, graças às peripécias exclusivas que esta reunião familiar possui. Nomeadamente:
- Ouvir as diferentes lamentações de alguns atletas, antes da prova, a fim de sacudirem a pressão;
- Na mesma linha, mas de uma maior raridade, ouvir as gabarolices de outros;
- Recordar atletas de outros tempos e velhas aventuras, nas conversas pré-aquecimento e durante o mesmo;
- Contactar com pessoas que, por vários motivos, e com imensa pena, só encontramos em dias de prova;
- Contrastar a tensão de uns com o relaxamento e o divertimento de outros (alguns, e consoante a importância da prova, parecem mesmo que são possuídos);
- Ouvir as pessoas a puxarem por nós e agradecer com um sorriso (quando ainda é possível);
- Observar os rituais minuciosos pré-prova de alguns atletas;
Entre outras peripécias. Porque são estes momentos que os atletas, directores, treinadores, etc, partilham entre si que dão significado e despoletam várias emoções (ainda que se possa tratar de um processo inconsciente) quando se aprecia toda esta paisagem familiar. Seja de uma perspectiva capaz de captar toda a tela, seja num olhar aproximado e dedicado em exclusivo a cada indivíduo ali presente. E se com tudo isto ainda somos capazes de nos superar e dar o melhor de nós na corrida, então será seguro dizer: aqui reside o “outro lado” da nossa saúde!
Obrigado por este 28 de março de 2021, que ficou bem gravado na minha memória.
Nota: O autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico.
Créditos das Fotos do Artigo: Light Sensitive
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